Parceria no Pará busca pecuária sustentável em Tucumã
A carne de
Tucumã será direcionada às lojas do Nordeste, hoje abastecidas pelo abate de
São Paulo. Segundo os parceiros, a idéia é criar uma estratégia de comunicação
para alertar os consumidores sobre o projeto na gôndola. Eles descartam cobrar
mais pelo produto.
(Do Valor Econômico) Produzir carne bovina de forma sustentável é, afinal, viável no Brasil?
Uma parceria inédita no Pará tentará responder essa questão. Conduzido pela
Marfrig Alimentos, pela varejista Walmart e pela organização ambientalista The
Nature Conservancy (TNC), o programa, que será lançado oficialmente hoje, terá
como foco 20 fazendas de gado de corte dos municípios de São Félix do Xingu e
Tucumã, no sudeste do Pará.
Essas propriedades
estão em processo de seleção, mas todas terão em comum o fato de já estarem
regularizadas. Isso quer dizer que já detêm o Cadastro Ambiental Rural (CAR),
que sinaliza seus contornos geográficos e déficits ambientais. A intenção é ir
além do bê-a-bá.
“Falamos em uma
fase pós-CAR, que prevê os próximos passos, como a restauração de florestas e
áreas prioritárias e o aumento de produtividade de pastagem e a intensificação
de rebanhos”, afirmou Márcio Sztutman, gerente de conservação do Programa
Amazônia da TNC.
Com investimento
inicial de R$ 500 mil, as três empresas esperam tecnificar os pecuaristas e
auxiliá-los a implementar esses aprimoramentos na produção, garantindo a origem
da carne comercializada. Conforme os resultados forem aparecendo, esperam
atrair outros investimentos para complementar e dar escala à iniciativa.
Para os parceiros,
ir além do CAR, reflorestando áreas degradadas e corrigindo o que é considerado
um erro na pecuária no Brasil – o famigerado número de um boi para um hectare
de pasto – poderá dar a medida do que é possível fazer para produzir carne de
forma mais responsável. “Esse projeto-piloto vai tentar montar uma operação
viável na Amazônia”, diz James Cruden, CEO da Marfrig Beef, divisão de bovinos
da companhia.
Embora as
conversas tenham começado há mais de um ano, o anúncio do projeto ocorre em um
período de atenção redobrada sobre a origem dos alimentos. Após o escândalo
envolvendo carne de cavalo em alimentos processados na Europa, algumas empresas
no país, como a concorrente JBS e o Mc Donald”s, partiram para a ofensiva com
campanhas sobre a procedência de suas matérias-primas na mídia.
Para o Marfrig, o
timing do projeto é importante também porque a empresa começou a operar no mês
passado sua primeira planta no Pará, herdada da aquisição do frigorífico
Mercosul. Localizada em Tucumã, ela abate hoje cerca de 200 cabeças de gado por
dia, mas pretende chegar no segundo semestre à média de mil cabeças. E comprar
gado de fornecedores idôneos da Amazônia é considerado crucial para não começar
errado. “Não queremos vigiar ninguém. Queremos que o nosso parceiro [fornecedor]
aprenda a fazer a coisa certa”, diz Cruden.
O fato de Tucumã
ser vizinho a São Félix do Xingu é outro fator preocupante. O município
paraense é emblemático não pelo seu rebanho – são 2 milhões de cabeças, ou 1%
do rebanho bovino nacional – mas pelas altas taxas de desmatamento que marcaram
a sua história.
São Félix está na
chamada “lista negra” de desmatadores do Ministério do Meio Ambiente. Nos
últimos três anos, registrou avanços, como o cadastramento de 80% das
propriedades rurais e uma tendência de desmatamento. Mas ainda detém mais de 40
Km² de desmatamento máximo permitido, o que impede sua saída da lista. É,
portanto, um desafio de desenvolver uma economia verde.
“Estamos tentando
encontrar um modelo que funciona, e nossa papel como varejista é valorizar esse
produto”, diz Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade do Walmart. A carne
de Tucumã será direcionada às lojas do Nordeste, hoje abastecidas pelo abate de
São Paulo. Segundo os parceiros, a ideia é criar uma estratégia de comunicação para
alertar os consumidores sobre o projeto na gôndola. Eles descartam cobrar mais
pelo produto.
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