Produção de cacau paraense cresce e pode firmar liderança no cenário nacional até 2020.
Com Informações
de Por Lázaro Magalhães/ Agência Pará de Notícias) O Pará este ano alcançará pela primeira vez o topo
do ranking de produção de cacau no Brasil. A tomada de dianteira ainda é
temporária. Isso porque a Bahia, o maior produtor do País, sofreu com a forte
estiagem deste ano e teve uma quebra na safra prevista. Ainda com uma área
plantada maior que a do Pará, que é hoje o segundo maior produtor nacional de
cacau, estima-se que a Bahia se recupere dos efeitos da seca - o que permitirá
que retome a liderança ainda na próxima safra.
Este ano a produção paraense será de 120 mil toneladas de amêndoas de cacau, enquanto a Bahia espera produzir entre 107 mil e 110 mil toneladas |
Ainda que provisória, a chegada do Pará
à liderança da produção cacaueira nacional é um grande termômetro dos avanços
significativos colhidos pela lavoura paraense nos últimos cinco anos – mesmo
que o Estado agora seja favorecido pelo revés climático sofrido pela Bahia. Ela
expõe um panorama onde, encostando cada vez mais nas lavouras baianas, o Pará
deve, em breve, se firmar definitivamente no primeiro lugar da produção
cacaueira nacional. E isso está acontecendo através de uma peculiar combinação
de esforços cooperados e condições muito oportunas para a produção paraense.
Ainda que provisória, a chegada do Pará à liderança da produção cacaueira nacional é um grande termômetro dos avanços significativos colhidos pela lavoura paraense nos últimos cinco anos |
Além de parcerias entre o Governo do
Estado e entidades governamentais, privadas e do terceiro setor para que a
assistência técnica chegue às lavouras, o protagonismo da rede de pequenos
produtores - que é a grande força da produção paraense -, as boas experiências
do cacau em modelos agroflorestais de plantio e as condições geográficas, de
solo e clima da Amazônia, são hoje os grandes trunfos da virada do cacau
paraense, esperada para breve.
Avanços
No estado, cerca de 80% da produção cacaueira é derivada de pequenas propriedades baseadas na agricultura familiar, estabelecidas predominantemente em solos de média a alta fertilidade do Estado |
Em cinco anos, a produção cacaueira do
Pará cresceu de 68,4 mil toneladas produzidas ao ano para 105,8 toneladas
anuais – o que confere ao Estado uma participação de 42% na produção nacional.
O crescimento médio da produção local é de 13% ao ano. Além disso, houve uma
expansão de 38% da área cultivada paraense desde o início do Programa de
Desenvolvimento da Cacauicultura no Pará (Prodecacau), em 2011.
O modelo do plantio de cacau em arranjos agroflorestais é alvo de uma experiência da Emater já realizada em Tomé-Açu, destaca Paulo Lobato, coordenador técnico da Emater-Pará. |
A renda circulante da produção cacaueira
entre os produtores do Estado também cresceu 146%, em especial como reflexo da
progressiva elevação do preço do cacau no mercado internacional. “Essa
assunção do Pará frente à Bahia ainda é episódica, determinada por fatores
climáticos que causaram uma brutal queda da produção baiana este ano. Mas é
importante ressaltar, apesar disso, a consistência do crescimento da produção
paraense de 2011 para cá, após a implementação do Programa de Desenvolvimento
da Lavoura Cacaueira no Pará”, destaca o secretário Hildegardo Nunes, que está
à frente da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará
(Sedap). “Com isso, temos apresentado crescimento médio constante, de 10%
a 13% ao ano. E isso tem permitido que já se pense em antecipar para 2020 a
projeção de que até 2023 o Pará passe a ser o maior produtor de cacau do
Brasil, superando a Bahia”.
Crescimento
Este ano a produção paraense será de 120
mil toneladas de amêndoas de cacau, enquanto a Bahia espera produzir entre 107
mil e 110 mil toneladas. Em 2015, o Pará produziu entre 105 mil e 110 mil
toneladas do produto, enquanto a Bahia produziu cerca de 160 mil toneladas. A
queda da produção baiana, causada pela estiagem, foi significativa, mas os
números mostram como o Pará está se aproximando rapidamente do topo da produção
cacaueira nacional.
Há tempos o cacau é uma importante fonte
de riqueza para o Estado. No século XVIII, o fruto chegou a ser o principal
produto de exportação do Estado do Grão Pará. Na época, a grande demanda do
mercado europeu motivou até a instalação de uma linha marítima regular ligando
Belém e Lisboa (Portugal). Hoje, olhando para o futuro, uma das grandes metas
do Pará é seguir ampliando a oferta de assistência técnica a
produtores. No estado, cerca de 80% da produção cacaueira é derivada de
pequenas propriedades baseadas na agricultura familiar, estabelecidas predominantemente
em solos de média a alta fertilidade do Estado.
Em cinco anos, a produção cacaueira do Pará cresceu de 68,4 mil toneladas produzidas ao ano para 105,8 toneladas anuais – o que confere ao Estado uma participação de 42% na produção nacional |
Uma proposta de intensificação desse atendimento será apresentada no próximo dia 9 de agosto, em reunião do Conselho Gestor do Fundo de Apoio à Cacauicultura do Estado do Pará (Funcacau). Ao todo, cerca de 1.500 famílias de pequenos agricultores produtores de cacau deverão ser beneficiadas até 2019, planeja a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural e Assistência Técnica do Estado do Pará (Emater-Pará).
É mais um passo desde que o Governo do
Estado do Pará definiu a cacauicultura como um dos segmentos prioritários da
política agrícola estadual, ainda em 2011, através da então Secretaria de
Agricultura. Em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(Ceplac), foi nessa época que surgiu o Programa Estadual de Desenvolvimento da
Cadeia Produtiva do Cacau (Prodecacau), que quer dinamizar e consolidar esta
cultura.
Economia forte
Hoje a produção paraense de cacau,
baseada na pequena agricultura familiar, já é uma das mais competitivas do
mundo, principalmente quando se considera a produtividade média das terras
plantadas (903 quilos por hectare) e o baixo custo de produção da lavoura
paraense (US$ 750 por tonelada). O Estado hoje soma um universo de 30 mil
produtores que têm relação com o cultivo do cacau.
“Já temos 160 mil hectares produzindo
cacau no Pará, o que já asseguraria uma produção de 160 mil toneladas.
Produzimos 120 mil toneladas porque parte dessa lavoura ainda não está em fase
produtiva. A tendência é que se avance e o Pará chegue logo à meta estabelecida
pelo programa, de 230 mil toneladas produzidas ao ano”, avalia o secretário
Hildegardo Nunes. “A partir daí, vamos reavaliar o programa e as condições de
expansão e manutenção, já que agora temos outro desafio, que é a melhoria da
produtividade por área plantada”.
Na fase atual, o Pará busca expandir
áreas de plantio. Mas chegará um momento em que a estratégia será invertida,
pondera Hildegardo Nunes. “Em vez de priorizarmos a expansão de áreas, teremos
que intensificar o aumento e produtividade. Já temos alguns produtores que já
chegam a até três mil quilos produzidos por hectare. Se conseguirmos dobrar
essa produtividade média atual, teremos condições de nos tornar em breve um
grande produtor mundial, sem precisar de expansão de áreas”.
O trunfo dos pequenos produtores
Nesse esforço, a melhoria da qualidade
do cacau paraense, o incremento em produtividade e a expansão do manejo e
controle sanitário entram como prioridades para elevar o Estado ao topo da
produção cacaueira nacional. Tudo isso tendo como prioridade os pequenos
produtores do Estado.
“A produção de base familiar é um dos
pontos fortes de nossa produção cacaueira. Um exemplo é o combate à vassoura de
bruxa, a praga que dizima plantações em todo o Brasil. Ela tem incidência nas
lavouras do Pará, mas como nosso cacau é produzido por pequenos produtores, as
famílias conseguem cuidar melhor das lavouras e controlar a praga. Na Bahia,
onde há grandes plantações, esse combate é mais difícil”, ressalta Hildegardo
Nunes. “Paralelamente a isso, já estamos fazendo uma migração do simples
esforço de aumento da área produtiva para um trabalho de intensificação da
assistência técnica”.
Nesse sentido, se aliam as pesquisas da
Ceplac para o desenvolvimento de sementes e mudas mais resistentes, o que tem
também impactado o avanço da produção paraense. Além, da Ceplac, várias outras
instituições se aliam para ajudar esse crescimento, como a Emater-Pará e ONGs.
Verticalização da cadeia do chocolate
“Com a meta de até 2023 colocar o Pará
na liderança da produção de cacau no Brasil, vem naturalmente a necessidade de
assumir outro desafio, que já vem sendo tratado desde que ultrapassamos a marca
das 100 mil toneladas produzidas ao ano. Esse novo compromisso é com a
instalação de indústrias que possam beneficiar esse cacau aqui mesmo no Estado.
Hoje nosso cacau é processado na Bahia. Precisamos das grandes moageiras
instaladas no Pará”, avalia o titular da Sedap.
Além da manutenção de políticas de
incentivo, a retomada de um projeto de apoio à instalação de pequenas fábricas
para o processamento do cacau foi um dos itens da pauta de pedido de apoio
levada à última audiência realizada pela Sedap com o ministro da Agricultura,
no dia 30 de junho. “As instalações seriam feitas através de parcerias
público-privadas, com cooperativas assumindo a gestão do funcionamento”,
adianta Hildegardo Nunes. “Nosso pleito é gerar pelo menos seis instalações
industriais de pequeno porte como essas no Pará, contemplando as diversas
regiões do Estado onde há polos de produção”.
Vantagens no modelo agroflorestal
Dos cerca de 30 mil produtores que hoje
têm relação com o cultivo do cacau no Estado, muitos não plantam apenas o
fruto. Vários conciliam o produto com outras espécies, como a banana, o açaí e
até com árvores de madeira nobre. E esse diferencial da produção paraense tem
se tornado uma grande vantagem produtiva, com impactos positivos para a geração
de renda e também para a recuperação de áreas de floresta e o desenvolvimento
sustentável no Estado.
Quatro mil mudas de cacau melhorado
geneticamente, doadas pela Ceplac e reproduzidas pelo escritório local
Emater-Pará em Capitão-Poço, no nordeste do Pará, devem ser distribuídas entre
agricultores familiares das comunidades de Nova Colônia e Igarapé Grande, em
janeiro próximo, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura
(Semagri). A meta é incentivar o plantio de cacau entre os plantadores deaçaí.
A Emater quer que esse cultivo seja mais uma alternativa de renda e segurança
alimentar aos produtores do município.
Os engenheiros agrônomos ressaltam: as
culturas do açaí e do cacau combinam muito bem e se complementam. Quando
plantados juntos, crescem melhor, com solos mais ricos e com menor necessidade
de irrigação. O modelo do plantio de cacau em arranjos agroflorestais é alvo de
uma experiência da Emater já realizada em Tomé-Açu. “São diversos arranjos
hoje em experiência em várias áreas do Pará. São frentes em áreas alteradas,
que precisam de recomposição com a ajuda de sistemas agroflorestais. Hoje é
quase obrigatório que essa recomposição seja feita com a ajuda de arranjos que
aliam o cacau a pelo menos outras quatro espécies”, destaca Paulo Lobato,
coordenador técnico da Emater-Pará.
Hoje o Pará experimenta arranjos onde o
cacau é plantado com a banana, o açaí e também o paricá, o mogno e até a
andiroba. “É fundamental que espécies arbóreas nativas também se integrem, já
que objetivo é também ajudar a recomposição progressiva da floresta em áreas de
grandes transformações causadas pela ação humana”, pontua Lobato. Além
disso, a Emater destaca as vantagens econômicas desse modelo. “A banana, por
exemplo, começa a produzir após sete a oito meses. O cacau começa a produzir em
até três a quatro anos de plantio. Mais tarde, outras espécies da floresta
podem gerar renda. Temos que pensar que todo arranjo agroflorestal também deve
compor renda aos produtores a curto e médio prazos”, defende o coordenador da
Emater-Pará.
Plantado ao lado do cacau, o açaí
proporciona o tão importante sombreamento necessário à lavoura cacaueira. “A
diversificação da produção é uma grande vantagem econômica e também é bom para
a recomposição de áreas que já foram alteradas, com o tempo. Há melhora de
qualidade do solo e também para a ocupação de área florestal, o que pode
minimizar o passivo ambiental nessas áreas”.
A meta atual da Emater-Pará é expandir a
área cultivada, mas principalmente viabilizar o crescimento da assistência
técnica aos produtores, principalmente às maiores áreas produtoras do Estado,
como a Transamazônica, São Félix do Xingu, Tucumã, Ulianópolis, Itaituba, Placas
e Novo Progresso, entre várias outras. Para isso, está para ser implementado
ainda este ano um projeto de parceria envolvendo o Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (Senar), a Ceplac e Emater-Pará.
“O modelo de cultivo agroflorestal é uma
tecnologia que vem se consolidando há anos, e é a que melhor atende nossas
necessidades e mais se adequa à nossa realidade. Ainda precisamos pensar muito
em como recuperar áreas e torná-las fortemente produtivas”, ressalta o
coordenador técnico da Emater-Pará. “Não se vê hoje melhor resposta nesse
patamar à nossas necessidades de garantia de sustentabilidade e renda para
esses produtores e mesmo para regiões de pastagem. Para isso já há os arranjos
agrosilvopastoris. Esse é o caminho”, garante Lobato.
Doce futuro
O titular da Sedap avalia que, a partir
do surgimento do programa cacaueiro do Estado, já houve uma valorização do
cacau do Pará. “Com participações em feiras nacionais e internacionais, estamos
conseguindo demonstrar a qualidade desse cacau paraense, que ficava mascarada
pela mistura que antes era feita com o restante da produção do Brasil. Isso
implicou na criação de nichos de mercado interessados no cacau paraense, como a
França, Japão e Áustria. Estamos conseguindo acessar o mercado internacional,
com um preço de mercado muito mais vantajoso para nosso produtor”.
O grande diferencial de qualidade do
cacau paraense é fruto da diversidade que proporcionam as cinco áreas distintas
de produção do Estado - que significam sabores e texturas únicos. As amêndoas
paraenses também possuem teores específicos de gordura e pontos de fusão
diferenciados, que conferem ao produto uma maior resistência ao calor e um sabor
e qualidade próprios. “A diversidade de aromas e teores do cacau paraense
é um atrativo muito grande para a indústria do chocolate, que também vive seu
momento de gourmetização. Os chocolates finos e de sabores especiais crescem no
mercado mundial”, aponta o secretário Hildegardo Nunes, ressaltando que, para
isso, também conta a origem do produto. “E é aí que o Pará vem se inserindo com
muita força, oferecendo um cacau nativo da Amazônia com tipos marcantes, pelas
condições climáticas e de solos de regiões de origem. Isso permite fazer
chocolates com diferentes aromas, sabores e texturas. Com a produção daqui se
pode produzir, por exemplo, um chocolate com cacau nativo de várzea, que só
existe no Pará”.
Comentários
Postar um comentário