Pará ganha mapas de solos e aptidão agrícola.
(Com Informações do Portal Embrapa/ Fotos Ronaldo Rosa). O Pará acaba de ganhar uma ferramenta
tecnológica que vai auxiliar no planejamento estratégico produtivo da região
com análise e indicação de áreas propícias aos diversos usos da terra e
tratos culturais. Os Mapas de Solos e de Aptidão Agrícola das Áreas Alteradas
do Pará, elaborados pela Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Solos, podem ser
usados para potencializar a produção, incidir na redução de riscos de
produtores e investidores e servir de suporte aos governos e agentes
financiadores. O produto está disponibilizado gratuitamente na internet e foi
lançado nesta terça (16), em forma de catálogo, na sede da Embrapa Amazônia
Oriental, em Belém.
Entre as inovações dos mapas estão a
linguagem utilizada, mais simples e de fácil acesso a diversos públicos, a
preocupação com a sustentabilidade e o refino nas informações cartográficas em
relação aos mapas anteriormente disponibilizados, fazendo um raio-x das áreas
do estado, conforme explicou o pesquisador Adriano Venturieri, coordenador do
projeto e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental.
De acordo com o cientista, o cuidado
em se discutir desenvolvimento e sustentabilidade também é um dos pontos fortes
na apresentação e concepção dos mapas, e por isso foram elaborados com base no
recorte da área alterada do Pará, em 20,89% da extensão do estado, o que
corresponde a apenas 260.681,03 km², do total de 1.247.955,381 km², conforme
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Trabalhamos somente nas áreas alteradas, ou seja, desflorestadas, pois
entendemos serem suficientes, se bem utilizadas, para alavancar o potencial
produtivo e o desenvolvimento local. Mais de 70% do Pará ainda é coberto por
áreas de floresta e essas áreas estão preservadas na análise dos mapas",
afirma Venturieri.
A publicação apresenta 26 mapas
elaborados a partir desse recorte das áreas alteradas do Pará, de acordo com
dados dos projetos Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite
– Prodes e TerraClass (2008 e 2012). São dois mapas com uma visão integral do
estado para solos e para aptidão, e estes, subdivididos nas 12 regiões de
integração administrativas do Pará. "Dividimos os mapas segundo a
configuração espacial adotada pelo governo do Pará e não do IBGE, para
fortalecer as bases de planejamento regional, alinhados com a política do
estado, que é um dos parceiros estratégicos para o desenvolvimento da
região", explica.
Outra novidade presente nos mapas é a
simplificação da linguagem utilizada. Termos e referências mais técnicas foram
adaptados, em especial, nos mapas de aptidão agrícola das terras, que
delimitarão as áreas com as denominações de boa, regular ou não recomendada,
seja para pecuária ou agricultura. Dessa forma, amplia-se o público-alvo para
além de especialistas em solo, governos e agentes financiadores,
agregando uma possibilidade real de dialogar diretamente com produtores rurais
e toda sociedade que se beneficia do produto.
Projeto
Os mapas são novos produtos
resultantes do projeto Uniformização do Zoneamento Ecológico-Econômico da
Amazônia Legal e Integração com Zoneamentos Agroecológicos da Região (UZEE-AML)
e foram elaborados por meio de esforço conjunto entre profissionais da Embrapa
Amazônia Oriental e Embrapa Solos.
Oferecem ainda bases científicas para
desmistificar um equívoco histórico e recorrente sobre a região, que relegava a
Amazônia à condição de solo pobre e sem potencialidades produtivas, ao revelar
que cerca de 87% da área desflorestada do Pará está apta para agricultura ou
pecuária.
Para se chegar a esses resultados, o
pesquisador aposentado e bolsista do projeto, Moacir Azevedo Valente, explicou
que houve um refinamento dentro de uma modalidade de mapeamento chamada de
reconhecimento de média intensidade, na escala de 1.250.000.
Por meio dessa escala, cada
centímetro do mapa corresponde a 2,5 quilômetros de extensão, obtendo-se,
então, uma visão mais apurada da área observada, revelando informações que não
apareciam nas publicações anteriores. "Para esse detalhamento nas
informações, foram utilizadas imagens de satélites e análises de campo",
comenta.
Agricultura familiar
Entre as novidades que a nova análise
desvelou está a reclassificação do Cerrado paraense, localizado do sul do Pará,
região de integração do Araguaia, que anteriormente era apontada como não
recomendada para agricultura. O mapa de aptidão agrícola dessa região indica
que 82% da área observada é agricultável, reforçando a importância estratégica
desse que promete ser um dos maiores polos produtores de grãos do Pará.
O mesmo pode ser observado em outra
classificação inédita que o produto traz que é a recomendação de áreas
exclusivas para a agricultura familiar, localizadas em sua quase totalidade na
região de várzea do Baixo Amazonas. "Essa análise respeita a tradição
local da região, até então invisibilizada e pode servir de instrumento de
fomento de políticas públicas locais, resultando em benefícios diretos a essas
populações", reforça Moacir Valente.
Ele alerta ainda para o fato de que
com exceção da indicação das áreas exclusivas para agricultura familiar, todas
as demais áreas avaliadas como aptas, podem ser utilizadas por qualquer tipo de
empreendimento produtivo, seja ele na escala do agronegócio empresarial ou de
produção familiar.
Ferramenta servirá como instrumento
técnico
Segundo estimativas da Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a população mundial
deve atingir o patamar de 9,6 bilhões de pessoas até o ano de 2050 e, para
alimentar a todos, será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em
ao menos 60%. Se, por um lado, o solo surge nesse cenário como um dos primeiros
recursos a serem usados no processo para a resolução da problemática da
produção de alimentos, por outro verifica-se que a área de solos férteis no
mundo é limitada e encontra-se sob constante pressão.
Na região Amazônica, essa pressão é
ainda maior, pois é nela que está abrigada a maior floresta tropical do mundo.
Uma ferramenta como o mapa de solos e de aptidão agrícola surge como um
instrumento técnico que mostra que é possível expandir a produção de alimentos,
e consequente desenvolvimento regional, sem a necessidade de aumentar o
desmatamento, como analisa o pesquisador Enio Fraga Silva da Embrapa Solos.
Ele argumenta que os mapas de solos
da Embrapa utilizam como objeto de trabalho apenas as áreas já desmatadas da
Amazônia. Com isso, não existe mapeamento nem indicação de áreas de mata e
vegetação nativa. "Por meio de um maior detalhamento e maior conhecimento
do recurso natural solo, consegue-se indicar com maior precisão uso das terras
do estado, potencializando a produção das culturas alimentares, aumentando o
retorno do produtor, reduzindo os riscos, planejando melhor toda a
região", garante.
Essa segurança se dá porque o mapa de
aptidão agrícola das terras faz uma avaliação física da região na qual analisa
os fatores limitantes de produção que são a deficiência de fertilidade natural,
a escassez ou excesso de água e ainda a facilidade à erosão e relevo
acidentado, estes considerados impedimentos à mecanização.
Setor produtivo aposta na pesquisa
para incrementar o desenvolvimento
A atualização dos mapas de solos e
aptidão da Embrapa é esperada com expectativa pelo setor produtivo local. Para
o secretário estadual de Desenvolvimento Agropecuário e de Pesca do Pará,
Hildergardo Nunes, esse tipo de trabalho é a base sobre a qual se pode desenhar
uma agropecuária mais moderna, competitiva e pautada na sustentabilidade.
"A parceria com a Embrapa é essencial para a construção de um planejamento
que resulte em salto qualitativo de desenvolvimento agropecuário no estado. Ao
conhecer a aptidão das terras, é possível descer ao território e, a partir daí,
desenhar polos de desenvolvimento agrícola, usar tecnologias com maior
eficiência, com redução de custos e eficiência na utilização de insumos, tornando
a produção mais assertiva e sustentável", afirma.
Agropecuária empresarial será
beneficiada
Para o presidente da Federação da
Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, o agronegócio se
consolida cada vez mais e é esta atividade econômica que ajudará o País a
alcançar estabilidade e, para isso, ele defende que é urgente o planejamento e
a profissionalização da agropecuária empresarial. "Acredito que os mapas
de solos e de aptidão são essenciais para fornecer ao nosso setor informações
mais precisas para o planejamento das atividades. Todo negócio para ser
próspero e lucrativo necessita agregar tecnologia, conhecimento. E uma
iniciativa dessas, partindo da Embrapa, é fundamental para aumentar nosso nível
de profissionalização", avalia.
Ele comenta ainda que o Pará
apresenta uma série de vantagens em relação a outras regiões, como clima, oferta
de luz e água, favoráveis ao desenvolvimento agropecuário, e que o mapa vem
trazer mais segurança para investidores e toda a base produtiva local.
Organizações ligadas à agricultura
familiar, setor que recebe destaque nos mapas, também esperam que a ferramenta
venha auxiliar aos trabalhadores rurais. Francisco de Assis Solidade da Costa,
presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do
Estado do Pará (Fetagri), argumenta que a ausência de acesso a informações
sobre a aptidão das terras é um dos gargalos dos produtores, assim como o
acesso a assistência técnica e extensão rural de qualidade.
Ele avalia que a oferta de mapas com
linguagem simplificada e informações sobre a agricultura familiar pode
aproximar os trabalhadores do tema e promover a análise dos solos nas áreas de
plantio, dando mais garantias, qualidade e renda na produção. Os Mapas de Solos
e de Aptidão Agrícola do Pará podem ser acessados gratuitamente por meio dos
sites: Embrapa Amazônia Oriental e Siageo.
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